Domingo, 19 Abril 2015 01:42

TERRA... PODER! CONFLITO...PÁTRIA! VIVER! CONVIVER.?! OU MATAR E MORRER?

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Será que existiria alguma relação entre o Massacre de Carajás - que completa 19 anos nesse dia 17 de abril de 2015 -, e a crise hídrica de São Paulo e do Sudeste, a greve de caminhoneiros, a PEC 215, o apagão no campo, a Soja transgênica, os agrotóxicos, a crise política, a luta de classes e o Estado Brasileiro

 

Massacre de Carajás

O Massacre de Carajás faz parte daquilo que mentimos em nossas orações e concepções - somos todos irmãos Brasileiros. Mas como disse George Orwell, no livro “A Revolução do Bixos”, “todos somos iguais, porém alguns são mais iguais (Brasileiros) que os outros”. Por isso, alguns podem ter terra para lucrar e tantos outros apenas quando morrem, para enterrar e tampar o próprio caixão.

 

Crise hídrica de São Paulo

Muitos analistas fizeram ponderações sobre a crise hídrica de São Paulo - curiosamente dispunham de copos d'Água nas suas mesas -, porém ninguém citou a reforma agrária não feita e que redundou num enorme êxodo rural que amontoou milhões de irmãos brasileiros num lugar só, sem saneamento adequado (vide aumento de dengue), sem mobilidade urbana, sem energia, inconsciente, insustentável, violenta e desumana.

 

Greve de caminhoneiros

As pessoas, gestores, políticos, pesquisadores só lembraram das ferrovias e hidrovias e de quanto precisam de produtos de outras regiões. Portanto, estão muito longe da tão almejada sustentabilidade, quando viram faltar todo gênero de produtos por ocasião da greve de caminhoneiros. E o pior, nossa memória será tão curta quanto aquela de lembrarmos em quem votamos  para deputado, nas últimas eleições, que elegemos o Congresso mais retrógrado e corrupto de toda nossa história. A tal ponto, que a remuneração que a maioria receberá durante quatro anos de mandato não alcança a declaração dos gastos da campanha que os elegeu. Mas... achamos isso irrelevante.

 

PEC 215

Essa Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 213 é o suprassumo de nossa prepotência e arrogância, éramos os “sem terra” da Europa, viemos para cá e expulsamos os índios de suas terras, escravizamos os africanos para trabalhar por nós, nos miscigenamos, mas não assumimos essa realidade que corre em nossas veias. Destruímos a natureza, poluímos a água com nossos dejetos, vivemos amontoados, drogados, depressivos, exploramos, matamos e adotamos um Deus em que seus ensinamentos/mandamentos devem ser de mentirinha, restrito aos templos, mas não praticados fora dele com nossos semelhantes.

 

Apagão no campo

Vivemos numa sociedade majoritariamente urbana, de valores e consciência urbana, em que a comida parece que nasce nas prateleiras e água brota das torneiras. Capinar no sol para produzir o próprio alimento é feio, torrar na praia e correr risco de câncer de pele é chic, pagar para caminhar sem sair do lugar nas academias com ar-condicionado é glamoroso, morar nos grandes centros e ir para o emprego (quando se tem) ficar trancado no trânsito por horas é chic, casal trabalhar fora e os filhos serem criados na creche (ou pelos traficantes) é chic. Ter títulos, sermos bibliotecas ambulantes é mais importante que ter sensibilidade, experiência, sabedoria, consciência e atitude. Conversar, ter relações impessoais, ficar conectado permanente no tablet, smartphone, twitter, watsap, facebook, assistir big brother é moderno. As energias e os efeitos biológicos, psicológicos e alienantes disso tudo que se explodam. O agricultor que convive com os ciclos da natureza e produz comida saudável é um atrasado! Que poderá ser salvo desde que venha para cidade, estudar. Afinal, precisamos de uma sociedade composta só de doutores! E isso é exatamente o que estão fazendo. A sucessão rural hoje é um problema GRAVE - está quase igual a falta de água no Sudeste e Centro Oeste brasileiros. Os latifundiários e as transnacionais estão tomando conta de tudo. Nosso organismo que se habitue com transgênicos, agrotóxicos, leite com formol e soda cáustica, carnes do friboi, etc, etc, etc. E dêle remédios (mais drogas) para conseguirmos conviver com rejeição à lactose, ao glúten. Queremos comidas orgânicas, saudáveis, mas não nos vemos como parte deste organismo chamado terra. Criamos ambientes artificiais que alteram nossa relação biológica e nossa interdependência e equilíbrio com a natureza.

 

Crise política

Não elegemos nossos representantes, mas vendemos nossos votos e almas para supostos messias desconhecidos. Depositamos nossos votos e vamos para casa, primeiro esperar que façam tudo por nós, depois criticamos porque não fazem o que esperávamos, (a bem da verdade não sabíamos o que queríamos) e, por fim, seguimos o caldo instigados justamente por aqueles que nos exploram, porque manifestação tanto quanto, salto alto, calça rasgada, tênis “nike”, aparelho eletrônico do último modelo, além de ser chic, são passaportes para me integrar e permanecer nessa “tribo capitalista”.

 

Luta de classes

O salário maior do outro me incomoda, o saber do outro me incomoda, e o título dos outros me incomodam mais ainda. Que inveja!. Já os garis, quê são esses tais garis? São apenas motores que carregam aqueles carrinhos de colocar lixo. Não têm, eles, sentimentos, família, opinião, esperança. Não sabemos de onde vieram (seria do êxodo rural?...ou as favelas já nascem prontas?!...) e nem pra onde vão. Seriam Brasileiros? Por que escolheram essa profissão? Há!, isso não me interessa. Assim como não me interessa a criança de rua, os desempregados, os sem terras, os índios, o caráter e o financiador de campanha do meu candidato, o sistema político... e assim, sucessivamente.... Nossa vocação e satisfação profissional se transformaram em sinônimos de dinheiro, salário, consumo. Não escolho mais minha profissão pela minha, vocação por aquilo que gosto de fazer, contribuição para sociedade que componho, pela minha satisfação profissional. Mas tão somente pela perspectiva de salário que receberei. Meu patriotismo se resume ao meu time de futebol, ao ator de novela, ao participante do big brother, ao lutador de UFC, à modelo desnutrida das passarelas. Sou herói pelas curtidas do “face”, pela quantidade de amigos nas redes sociais. Minha indignação se resume quando falta água, quando o trânsito tranca, quando roubam meu celular e fico desconectado e principalmente quando vem aquele vazio existencial. Aí, quero quebrar tudo, as vezes até a mim mesmo.

 

Estado Brasileiro

Bom, esse formado pela cultura, miscigenação, história e estrutura política que nos trouxe até aqui, oriundo de elites rurais que até hoje mandam no País, vide a bancada mais forte no congresso. Por conta disso, as tão citadas reformas estruturais. Dentre as quais, a reforma agrária enfrenta dificuldades. Não só por isso, pois pode ser uma das saídas para crise do atual sistema, mas sobretudo pela falta de consciência da população. Uma consciência míope que aceita a violência no campo, o êxodo rural, os latifúndios sem limites, a grilagem de terras, as cidades insustentáveis, o consumo de agrotóxico. Essa consciência não vê, aliás nem percebe, a importância do fortalecimento de instrumentos de Estado, a exemplo do MDA e INCRA, para evitar o apagão rural e garantir soberania alimentar, territorial, de água potável, além de buscar níveis mais próximos da tão necessária sustentabilidade para o Brasil.

Direção Nacional da Cnasi

Brasília, 17 de abril de 2015

Esse é apenas mais um desabafo/alerta destes, cidadãos, servidores do Incra que no momento respondem pela Confederação Nacional das Associações dos Servidores do Incra - CNASI

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